Por que os continentes se movem?

“Este Planeta dinâmico”. Serviço geológico dos EUA (2006).

A resposta para essa pergunta é relativamente simples, mas para entender totalmente a “movimentação dos continentes” precisamos retornar aos tempos em que o Planeta Terra não era mais que uma “bola de fogo” orbitando o nosso Sol, isso logo depois que a poeira cósmica se juntou para o formar. Esse calor (energia) primordial produziu o magma, isto é, rochas fundidas em temperatura extremamente alta.

Alguns poucos milhões de anos se passaram até que essas rochas começassem a esfriar na superfície terrestre em contato com a atmosfera primitiva, no entanto, logo abaixo da crosta (a camada mais externa da Terra), o magma ainda continuou tão quente e dinâmico quanto tinha sido nos primórdios, e ainda continua até hoje. Foi então, por causa dessa diferença de temperaturas e também da diferença de composição dos elementos entre o exterior e a parte interior, que surgiu a litosfera, uma “capa” externa composta de magma que esfriou e se solidificou, responsável por dar origem a um mosaico de grandes placas sobre as quais habitamos, onde repousam os continentes e acomodam-se os oceanos.

Situada logo abaixo da litosfera está uma camada composta de material relativamente fluido e aquecido a altas temperaturas que continua ativa, movimentando-se em diferentes direções e velocidades e permitindo que a litosfera flutue sobre ela. Essa camada aquecida a elevadas temperaturas pelo calor produzido no núcleo e que mantém as rochas em estado permanentemente semi-derretido, chama-se astenosfera. Dentro da astenosfera ocorrem correntes convectivas, responsáveis pela transferência de calor das camadas inferiores da Terra para as camadas superiores. Quando o magma é aquecido, ele perde densidade, fica “mais leve” e sobe, substituindo um pedaço mais frio e mais denso na parte superior. Esse movimento funciona com um “motor”, uma “ignição” para a movimentação dos continentes, pois cria um “efeito esteira” sob a litosfera, promove rachaduras nela, contribuindo para o surgimento das placas tectônicas, e permitindo que elas movimentem-se em diferentes direções.

Hoje é reconhecida a existência de 17 grandes placas tectônicas, além de outras menores, as quais, juntas, formam a litosfera. A mobilidade delas é que permite observarmos o chamado “tectonismo de placas”, que promove uma “dança dos continentes” que ocorre de forma diferente em cada parte do Planeta.

Em certos limites entre placas tectônicas predominam movimentos divergentes, que nada mais são do que a movimentação de duas placas em direções opostas, situação que pode ocorrer tanto no fundo do mar (crosta oceânica), a exemplo do que ocorre na zona central do Oceano Atlântico, como também no interior de um continente (crosta continental), conforme é observado na porção leste do continente Africano. No primeiro caso, o resultado desse processo de afastamento entre placas sob o oceano é a extrusão contínua de material magmático ao ponto de formar uma espécie de “cadeia montanhosa” extensa, a qual recebe o nome de Dorsal Mesoceânica, ou Cadeia Meso-Atlântica. No entanto, quando esse afastamento entre placas tectônicas ocorre no interior de um continente, o resultado é uma “fratura” na litosfera, e a “terra abre-se“, dando origem a uma forma de relevo denominado Rift. Neste caso, importa frisar que, se tal movimento de distensão ou extensão da crosta permanecer ao longo do tempo (por milhares ou milhões de anos), a tendência é que mais cedo ou mais tarde o mar avance sobre essa área e uma nova bacia oceânica se forme, e até que esse continente se quebre e as duas partes sejam separadas. Vale ainda acrescentar que quando essa separação ocorre no continente, a movimentação das placas pode causar terremotos e até o aparecimento de vulcões. No oceano, a ascensão e derramamento de magma advindo do manto causa a expansão do assoalho oceânico.

Por sua vez, em outras áreas do Planeta os limites entre placas tectônicas podem apresentar outros comportamentos e, ao invés de estarem se separando, as placas estão convergindo. Os limites convergentes, ocorrem quando duas placas estão indo de encontro uma à outra, gerando áreas que, entre outras características, são marcadas pela maior frequência e intensidade dos terremotos. Em uma zona de convergência de placas, os resultados podem ser distintos, mas quando uma das placas é mais densa (geralmente a oceânica) do que a outra, ela afunda sob a placa menos densa (geralmente a continental), caracterizando o processo de subducção. Quando esse “mergulho” ocorre sob o oceano, zonas que apresentam grandes profundidades são formadas, dando origem às famosas (e, porque não dizer, mitológicas) fossas oceânicas, zonas submarinas ainda pouco exploradas e, portanto, pouco conhecidas pelo Ser Humano em função de sua grande profundidade e seu difícil acesso, como a Fossa das Marianas, localizadas no oceano pacífico, e que chega a apresentar 11 km de profundidade!

Por outro lado, quando duas placas tectônicas convergem e colidem em meio ao oceano (crosta oceânica), ocorre também a formação de “arcos de ilhas” junto às fossas oceânicas, onde é comum a presença de vulcões submarinos, ilhas vulcânicas e a formação de arquipélagos lineares que acompanham a faixa de encontro entre as placas tectônicas, tal como é o caso do arquipélago japonês, formado entre as placas do Pacífico, Filipina e Eurasiática.

Ainda, em locais onde duas placas continentais colidem, o resultado pode ser a ocorrência de um grande processo de dobramento e soerguimento do relevo, isto é, a deformação e a elevação de uma grande área. Nessas regiões, além da ocorrência de grandes tremores de terra (sismos), a “deformação” da crosta terrestre leva ao surgimento de uma cadeia de montanhas. Esse fenômeno de dobramento e soerguimento é o que dá origem, por exemplo, aos famosos Alpes suíços, no continente europeu, e ao Himalaia, no continente asiático. Na América do Sul, a linear Cordilheira dos Andes resulta da colisão da Placa tectônica de Nazca com a Placa Sul-Americana, levando à formação tanto de uma fossa oceânica sob o mar, localizada relativamente próxima ao litoral, como dando origem a vulcões nesse ambiente tectônico com uma das maiores incidências de terremotos do planeta.

Diferentemente das situações acima descritas, existem ambientes tectônicos onde as placas continentais não se afastam e nem colidem, mas movimentam-se lateralmente, lado a lado uma da outra. Tratam-se das áreas de limites conservativos (ou transformantes). A Falha de Santo André, nos EUA, é um dos casos mais famosos, seja pela possibilidade de sua plena observação (é possível ver o ponto de contato das placas tectônicas à “olho nu”), seja por causa da grande sismicidade que causa no extremo oeste estadunidense.

As placas tectônicas são renovadas permanentemente, num “ciclo tectônico”. De certo modo, elas são “criadas” nas áreas de divergências de placas, como a Dorsal Meso-Atlântica, local onde o afastamento das placas permite a extrusão de magma, seu resfriamento e a formação da litosfera jovem. E são “destruídas” em zonas de convergência (como as fossas oceânicas, zonas de subducção), quando mergulham sob o manto e começam a ser fundidas aos poucos.

Ainda que lentamente, e nem sempre capturável a olhos nus ou pelo tempo da vida humana, as placas tectônicas (e os continentes que fazem parte delas) demonstram que se movem continuamente e, de tempos em tempos, seja através da observação atenta da paisagem (com suas cordilheiras elevadas e fossas oceânicas profundas), seja através dos terremotos (e tsunamis), a Terra nos lembra que ela é extremamente dinâmica.

  • Leituras sugeridas

CHRISTOPHERSON, R. W. Geossistemas: Uma Introdução à Geografia Física. Porto Alegre: Bookman Editora, 2012.

GROTZINGER, J.; JORDAN, T. Para Entender a Terra. Porto Alegre:  Bookman Editora, 2013.

SIMKIN, T., TILLING, R. I., VOGT, P. R., KIRBY, S. H., KIMBERLY, P., & STEWART, D. B. This Dynamic Planet: World Map of Volcanoes, Earthquakes, Impact Craters, and Plate Tectonics: US Geological Survey Geologic Investigations Map I-2800. SIPRE auger. Jon’s Machine Shop, v. 350, p. 99712-1007, 2006.

TEIXEIRA, W.; TOLEDO, M. C. M.; FAIRCHILD, T. R.; TAIOLI, F. Decifrando a terra. São Paulo: Editora Oficina e Textos, 2009.

  • Sobre o(s) autor(es)

Luiza e João são graduandos em Geografia pelo Instituto Multidisciplinar da Universidade Federal Rural do Rio de Janeiro, enquanto Laura é Professora do Departamento de Geografia do Instituto Multidisciplinar da Universidade Federal Rural do Rio de Janeiro.

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