Desde muito cedo, o ser humano faz uso dos desenhos para se divertir, como forma de expressão artística, trabalho, e meio de informação sobre uma grande variedade de temas. Tente se lembrar dos primeiros desenhos que você realizou em sua vida. É provável que recorde de casas, árvores, montanhas, bonecos dos pais, irmãos e amigos… e para que pudesse representá-los foi necessário utilizar materiais como tinta, lápis, carvão, giz; atualmente, as crianças já dispõem do mouse e canetas digitais, mas a ludicidade desse recurso gráfico-visual continua viva!
Há registros de desenhos desde a pré-história! As cavernas de Altamira, em Santillana del Mar, próximas a Bilbao, na Espanha; e os grandes paredões de rocha no Parque Nacional da Serra da Capivara em São Raimundo Nonato, no sul do Piauí, são exemplos de pinturas conhecidas como arte rupestre, criadas entre seis e 14 mil anos atrás, e representam mensagens, desejos e necessidades do cotidiano daquelas pessoas.
De lá para cá, o desenho evolui em seus traços e propósitos, sendo utilizado em diversos campos do conhecimento humano: arte, geometria, engenharia, topografia, arquitetura, jornalismo, publicidade, entretenimento (quadrinhos, desenhos animados), ensino, entre outros. Na educação, utiliza-se o desenho ilustrativo, mais precisamente, a ilustração científico-didática, que se caracteriza por representações gráficas que possuem fins práticos, ou seja, precisa ser utilitária, tendo a obrigação de comunicar de maneira clara a informação ao seu usuário potencial, ou seja, deve ser eficaz, não permitindo ambiguidades na transmissão da informação.
É comum encontrar esses tipos de ilustração em revistas e livros relacionados, por exemplo, as áreas da botânica, astronomia, biologia, medicina, paleontologia, história e geografia. Ao contrário do desenho artístico, que é uma expressão livre, a ilustração possui uma função objetiva de comunicação, trazendo consigo uma relação de dependência mútua entre o texto e a imagem e vice-versa. Caracteriza-se ainda, como um desenho de síntese, e por isso, torna-se um importante recurso para se compreender e explicar conceitos, processos e/ou fenômenos de maneira simplificada e funcional.
No século XIX, a ilustração foi essencial para o desenvolvimento da Geografia Moderna. As expedições artístico-científicas europeias realizadas por viajantes naturalistas para a América, possibilitou a produção de um imenso e minucioso inventário da região com desenhos ilustrativos das formas do relevo e a hidrografia, espécies da fauna e flora, vida social, das etnias e dos costumes do novo continente. Entre os cientistas-ilustradores que desembarcaram no Brasil, dois nomes merecem destaque: o alemão Johann Moritz Rugendas e o francês Jean-Baptiste Debret. Ambos foram diretamente influenciados pelo cientista viajante Alexander von Humboldt, um dos pais da Geografia moderna. Aliás, durante as expedições, a presença de um desenhista na tripulação era indispensável, pois os olhos dos artistas viajantes registravam a paisagem dos lugares visitados. Cada trabalho realizado era uma manifestação artística e, ao mesmo tempo, uma obra criada com o propósito de deixar uma documentação histórico-cultural para a posteridade.
Além dos registros da paisagem, a geografia ainda utiliza outras técnicas de desenho que proporcionam ilustrações esquemáticas. E nesse caso, citam-se o bloco-diagrama e o perfil. O bloco-diagrama é uma representação em perspectiva de uma parte da crosta terrestre, na qual se pode observar ao mesmo tempo a topografia e as camadas geológicas; enquanto o perfil é uma representação em forma de gráfico de um corte do terreno, apresentando duas escalas: vertical, que representa a maior ou menor ocorrência do elemento descrito (por ex.: relevo, vegetação, áreas de calor, potencial hídrico); e horizontal, que representa o tamanho da distância do terreno representado.
A sociedade contemporânea, mais do que em qualquer outro momento histórico, utiliza exponencialmente as mais variadas imagens como meio de comunicação. Deste modo, cabe pensar em um uso cada vez maior e melhor das ilustrações no campo da educação, inclusive da Geografia; tanto na divulgação dos conhecimentos científicos, quanto em sua utilização pelos professores em sala de aula.
- Leituras sugeridas
SILVA, Ney; VALE, Keila e FERREIRA, Ana Regina. Arte na Geografia: um ensaio teórico-conceitual. São Luís: Clube de Autores, 2002, 84 p.
SUETERGARAY, Dirce Maria Antunes. Terra: feições ilustradas. Porto Alegre: Editora da UFRGS, 2008.
FIORI, Sergio Ricardo e LUCENA, Rodolpho Willian Alves de. O uso da comunicação visual na Geografia: a ilustração nos ambientes escolar, acadêmico e profissional. Caminhos de Geografia, n°. 75, v. 21, p.117-136, 2020.
- Sobre o autor
Sérgio é professor do Departamento de Geografia do Instituto Multidisciplinar da Universidade Federal Rural do Rio de Janeiro.