O mundo visto por meio dos desenhos ilustrativos

Desde muito cedo, o ser humano faz uso dos desenhos para se divertir, como forma de expressão artística, trabalho, e meio de informação sobre uma grande variedade de temas. Tente se lembrar dos primeiros desenhos que você realizou em sua vida. É provável que recorde de casas, árvores, montanhas, bonecos dos pais, irmãos e amigos… e para que pudesse representá-los foi necessário utilizar materiais como tinta, lápis, carvão, giz; atualmente, as crianças já dispõem do mouse e canetas digitais, mas a ludicidade desse recurso gráfico-visual continua viva!

Há registros de desenhos desde a pré-história! As cavernas de Altamira, em Santillana del Mar, próximas a Bilbao, na Espanha; e os grandes paredões de rocha no Parque Nacional da Serra da Capivara em São Raimundo Nonato, no sul do Piauí, são exemplos de pinturas conhecidas como arte rupestre, criadas entre seis e 14 mil anos atrás, e representam mensagens, desejos e necessidades do cotidiano daquelas pessoas. 

De lá para cá, o desenho evolui em seus traços e propósitos, sendo utilizado em diversos campos do conhecimento humano: arte, geometria, engenharia, topografia, arquitetura, jornalismo, publicidade, entretenimento (quadrinhos, desenhos animados), ensino, entre outros. Na educação, utiliza-se o desenho ilustrativo, mais precisamente, a ilustração científico-didática, que se caracteriza por representações gráficas que possuem fins práticos, ou seja, precisa ser utilitária, tendo a obrigação de comunicar de maneira clara a informação ao seu usuário potencial, ou seja, deve ser eficaz, não permitindo ambiguidades na transmissão da informação.

Derrubada de uma Floresta, 1835. Johann Moritz Rugendas. Pinacoteca do Estado de São Paulo.
Lagoa das Tretas, 1835. Johann Moritz Rugendas. Coleção Brasiliana Itaú.

É comum encontrar esses tipos de ilustração em revistas e livros relacionados, por exemplo, as áreas da botânica, astronomia, biologia, medicina, paleontologia, história e geografia. Ao contrário do desenho artístico, que é uma expressão livre, a ilustração possui uma função objetiva de comunicação, trazendo consigo uma relação de dependência mútua entre o texto e a imagem e vice-versa. Caracteriza-se ainda, como um desenho de síntese, e por isso, torna-se um importante recurso para se compreender e explicar conceitos, processos e/ou fenômenos de maneira simplificada e funcional.

No século XIX, a ilustração foi essencial para o desenvolvimento da Geografia Moderna. As expedições artístico-científicas europeias realizadas por viajantes naturalistas para a América, possibilitou a produção de um imenso e minucioso inventário da região com desenhos ilustrativos das formas do relevo e a hidrografia, espécies da fauna e flora, vida social, das etnias e dos costumes do novo continente. Entre os cientistas-ilustradores que desembarcaram no Brasil, dois nomes merecem destaque: o alemão Johann Moritz Rugendas e o francês Jean-Baptiste Debret. Ambos foram diretamente influenciados pelo cientista viajante Alexander von Humboldt, um dos pais da Geografia moderna. Aliás, durante as expedições, a presença de um desenhista na tripulação era indispensável, pois os olhos dos artistas viajantes registravam a paisagem dos lugares visitados. Cada trabalho realizado era uma manifestação artística e, ao mesmo tempo, uma obra criada com o propósito de deixar uma documentação histórico-cultural para a posteridade.

Além dos registros da paisagem, a geografia ainda utiliza outras técnicas de desenho que proporcionam ilustrações esquemáticas. E nesse caso, citam-se o bloco-diagrama e o perfil. O bloco-diagrama é uma representação em perspectiva de uma parte da crosta terrestre, na qual se pode observar ao mesmo tempo a topografia e as camadas geológicas; enquanto o perfil é uma representação em forma de gráfico de um corte do terreno, apresentando duas escalas: vertical, que representa a maior ou menor ocorrência do elemento descrito (por ex.: relevo, vegetação, áreas de calor, potencial hídrico); e horizontal, que representa o tamanho da distância do terreno representado.

A sociedade contemporânea, mais do que em qualquer outro momento histórico, utiliza exponencialmente as mais variadas imagens como meio de comunicação. Deste modo, cabe pensar em um uso cada vez maior e melhor das ilustrações no campo da educação, inclusive da Geografia; tanto na divulgação dos conhecimentos científicos, quanto em sua utilização pelos professores em sala de aula.

  • Leituras sugeridas

SILVA, Ney; VALE, Keila e FERREIRA, Ana Regina. Arte na Geografia: um ensaio teórico-conceitual. São Luís: Clube de Autores, 2002, 84 p.

SUETERGARAY, Dirce Maria Antunes. Terra: feições ilustradas. Porto Alegre: Editora da UFRGS, 2008.

FIORI, Sergio Ricardo e LUCENA, Rodolpho Willian Alves de. O uso da comunicação visual na Geografia: a ilustração nos ambientes escolar, acadêmico e profissional. Caminhos de Geografia, n°. 75, v. 21, p.117-136, 2020.

  • Sobre o autor

Sérgio é professor do Departamento de Geografia do Instituto Multidisciplinar da Universidade Federal Rural do Rio de Janeiro.

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