A palavra Migração designa toda e qualquer forma de deslocamento realizado por um ser vivo. Ao longo da história, pôde-se observar grandes movimentos migratórios realizados pelos seres humanos. Os motivos e as razões que levaram aos deslocamentos destes grandes contingentes populacionais pelo planeta foram e continuam sendo os mais diversos. Porém, de maneira geral, os fenômenos migratórios podem ser classificados em dois grupos principais.
As migrações voluntárias dizem respeito aos deslocamentos que resultam de uma livre escolha do indivíduo, ou grupo de indivíduos. Normalmente, tem como motivação a busca por desfrutar de uma melhor qualidade de vida, isto é, estabelecer-se em um lugar capaz de oferecer benesses maiores do que aquelas que teriam acesso caso permanecessem onde já vivem. Não é raro conhecermos pessoas que optaram por se estabelecerem em outras cidades (ou países), devido as oportunidades de acessarem um emprego mais estável, obterem melhores salários, desfrutarem de amenidades (praias, clima, belezas cênicas), e/ou, simplesmente, a possibilidade de experimentarem uma vida mais pacata, serena, distante do conturbado cotidiano dos grandes centros urbanos, por exemplo.
Por sua vez, as migrações forçadas estão relacionadas aos graves problemas apresentados por um lugar e que comprometem a própria sobrevivência de uma pessoa ou grupo de pessoas, revelando assim a necessidade destes buscarem um novo destino, inclusive sob o risco de, caso assim não procederem, a própria vida desses indivíduos encontrar-se sob risco. Com frequência, alguns fatos e fenômenos de diferentes naturezas são responsáveis por desencadear este tipo de deslocamento forçado de populações. Esses são os casos da produção da miséria e da fome, a eclosão de guerras, as perseguições políticas e a ocorrência de catástrofes ambientais (terremotos, secas, tempestades etc) que obrigam muitas pessoas a abandonarem seu local de origem e buscarem um novo destino para viver.
As migrações podem ocorrer em diversas escalas, receber nomes ou classificações específicas, mas sempre demonstram relações que lugares próximos ou distantes mantém entre si. Desse modo, os deslocamentos populacionais podem ser observados em escala internacional, envolver países, ou mesmo, continentes. Esse é o caso das migrações “Sul-Norte”, caracterizadas pelo vasto contingente de migrantes de países pobres ou subdesenvolvidos (predominantemente localizados no “sul do globo”) que buscam, de maneira legal ou ilegal, ingressar em países ricos, desenvolvidos (majoritariamente situados ao norte), almejando ter acesso a melhores condições de vida.
Também, no interior de um país (portanto, em escala nacional), é comum observarmos migrações interregionais (ou interestaduais). Estas comumente ocorrem quando são significativas as desigualdades econômicas e sociais entre as regiões de um país, motivando os habitantes das regiões mais pobres a migrarem para aqueles centros economicamente mais ricos e dinâmicos, ou para onde as oportunidades de emprego, renda e ascensão social são, aparentemente, mais promissoras (como as áreas de expansão da fronteira agropecuária e mineral, por exemplo).
Ademais, mesmo que não possa ser considerado como um fluxo migratório estabelecido exclusivamente em escala nacional, torna-se oportuno citar aqui o papel que outra dinâmica migratória assumiu (e ainda assume) para a definição dos movimentos da população no interior de um país. O êxodo rural, isto é, o deslocamento das pessoas do campo para as cidades (em razão da modernização da produção agropecuária e da industrialização, por exemplo) se constituiu num fenômeno migratório marcante em países como o Brasil, pois definiu um novo perfil da população, cada vez menos rural e cada vez mais urbana.
Em escala local, e se constituindo em um fenômeno muito comum em contextos metropolitanos, um deslocamento regular de pessoas pode ser visto cotidianamente, revelando uma estreita relação entre o núcleo metropolitano (muitas vezes capitais de estados, ou polos regionais) e as cidades situadas ao seu redor. De modo a configurar um movimento semelhante ao de um “pêndulo”, grande número de pessoas deslocam-se todos os dias de suas casas, muitas vezes localizadas nas periferias urbanas, para o núcleo metropolitano em busca por cumprir suas jornadas de trabalho, realizar seus estudos, acessar equipamentos e serviços públicos, regressando para suas residências ao final do dia. Recebendo o nome de migração pendular, esses deslocamentos constantes “de casa para o trabalho”, “de casa para a faculdade”, “de casa para os serviços públicos”, demonstram como esse “vai-e-vem” de pessoas, essa forma específica de migração, faz parte da rotina diária de muitos que habitam espaços densamente urbanizados.
Por fim, mas não menos importante, cabe esclarecer a diferença aparentemente sutil entre duas palavras frequentemente utilizadas para definir a condição da pessoa migrante. Atribui-se a palavra emigrante (com E) a todos aqueles que emigram, isto é, saem ou deixam seu lugar de origem (país ou estado) em direção a um novo destino. Por outro lado, imigrante (com I) compreende todos aqueles que, vindos de “fora”, ingressam em um lugar novo, não sendo, portanto, dali nativos ou naturais. Assim, a mesma pessoa que migra (ou seja, que parte de um lugar para outro), constitui-se em um emigrante em sua terra de origem (pois de lá saiu), e em um imigrante no seu lugar de destino (pois, vindo de “fora”, ali ingressou e busca se estabelecer).
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- Leituras sugeridas
BRUMES, K. R.; SILVA, M. A migração sob diversos contextos. Boletim de Geografia, Maringá, v. 29, n. 1, p. 123-133, 2011.
LEAL, L. A emigração de brasileiros para os EUA: Sonhos, permanências e frustrações. Monografia (Graduação em Geografia). Instituto Multidisciplinar, Universidade Federal Rural do Rio de Janeiro, Nova Iguaçu, p. 49, 2023.
NOLASCO, C. Migrações Internacionais: Conceitos, Tipologias e Teorias. Oficina Nº 434. Centro de Estudos Sociais, Coimbra, 2016.
SALGADO, Sebastião. Êxodos. São Paulo: Companhia das Letras, 2000.
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SCARLATO, F. População e urbanização brasileira. In: ROSS, J. Geografia do Brasil. São Paulo: EDUSP, 2001, p. 381-463.
SOUSA, A. Geografia e mobilidade: primeiras aproximações. Brazilian Geographical Journal, Ituiutaba, v. 11, n. 1, p. 240–245, 2020.
- Sobre os autores
Cecília e Nathan são graduandos em Geografia pelo Instituto Multidisciplinar da Universidade Federal Rural do Rio de Janeiro, enquanto Francisco é Professor do Departamento de Geografia do Instituto Multidisciplinar da Universidade Federal Rural do Rio de Janeiro.